quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

História da Previdência

Anos 1960-70 - congressos
de Medicina de Grupo
Nascido na Polonia, perto da fronteira alemã, Juljan Czapski expressava-se em alemão e polonês. Adolescente, aprendeu francês na prática, na rota de fuga vivida na II Guerra Mundial (mais de meio ano entre França, Senegal e Marrocos). E português, por ter vivido e estudado no Brasil desde os 16. O inglês firmou-se por necessidade durante cursos e viagens. 

Mas dizia-se "fluentemente analfabeto em todas as línguas". Pois conversava nos vários idiomas sem medo de errar, mas intimidava-se pelos erros ortográficos na escrita, dado seu aprendizado via conversação.

Talvez por isso preferisse pedir que datilografassem (quem se lembra disso?) ou digitassem o que escrevia a mão (ótimos textos, linguagem simples e direta). Em geral, havia uma secretária a postos. Mas...

Palestrando na Argentina,
em 2008
... nos fins de semana, não raro, era eu, a filha jornalista, a digitar. Foi assim quase oito anos atrás, quando (de novo / ainda) a Reforma de Previdência estava em pauta.

Com sua aguda memória, o Cavaleiro da Saúde fez um resumo histórico, que enviou como comentário de um artigo de um colunista do Estadão. Sem se intimidar com a não resposta, mandou para o blog do jornalista Luis Nassif, onde o tema "fervia". Nassif publicou em 1/2/2007. E Dr. Juljan espantou-se com as dezenas de comentários que recebeu. 

As considerações tornam-se mais que atuais, ante a onda de desonerações para o setor produtivo, que trará reflexos na questão das aposentadorias, por reduzir as contribuições das empresas nessa área. Confira: 



"Caro Luis Nassif,
 Tenho acompanhado com interesse seus comentários sobre os números da Previdência. Há muitos anos tenho batido na tecla dos fatos que contribuíram para chegarmos à situação atual. Reproduzo abaixo uma carta que escrevi há pouco mais de um ano para um jornal, que não foi publicada ou comentada, e que traz alguns fatos ainda não levantados na atual discussão.                          
Estou com mais de 80 anos e tenho contato com a Previdência há mais de 50, desde o tempo dos "Institutos de Previdência", alguns mais ricos, outros mais pobres, e com diversos graus de prestação de serviços. Mas todos eles ainda não pagavam aposentadoria, pois a grande leva de trabalhadores só recebeu "carteira assinada" a partir da 2.ª metade da década de 1950 e principalmente nos anos 1960. Teriam direito à aposentadoria a partir da 2.ª parte da década de 1980, com grande incremento nos anos 1990.
O caixa portanto estava alto. Mas o Governo, em vez de aplicar as reservas, usou-as para fins sem retorno financeiro, como por exemplo custear a construção de Brasília e subsídios diversos...
Em 1967, os institutos isolados foram fundidos no INPS. Pela lei, teriam direito à aposentadoria apenas os contribuintes. Só que, no governo Geisel, por motivos políticos, começaram a dar direito à aposentadoria também para quem não contribuíra: trabalhadores rurais, etc. Lembro-me perfeitamente quando o então ministro da Previdência, muito assustado, externou pessoalmente a mim que o número de idosos era cinco vezes maior de que os dados fornecidos a ele. Mas o caixa, mesmo assim, continuava alto.
 Aí, no Governo Itamar Franco, o então Ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso enfrentava o caixa do Tesouro baixo, deficitário. Para melhorar este caixa - que pagava a aposentadoria, em geral alta, de militares, deputados, funcionários públicos, etc - o sr. Ministro baixou uma portaria retirando do Tesouro, e passando para o INPS, o pagamento destas aposentadorias. Ou seja, todo pessoal do setor público que nunca contribuiu para o INPS, já que esta era atribuição do Tesouro (onde aliás o Governo também deveria ter contribuído com sua parte), passou a depender deste caixa da Previdência. E esta situação persiste até hoje [obs: 2007]. Além do mais, o número dos legítimos beneficiados, aqueles que contribuíram efetivamente, amplia-se a cada ano.
 O caixa acabou. Como fazer para pagar as aposentadorias? Roubando dos aposentados, que são o elo fraco desta corrente.
A situação foi ainda agravada pelo fato de o cálculo autuarial da Previdência ter se baseado na contribuição tripartite - empregado, empregador e governo - e que este último nunca contribuiu. Pois com isso falta ainda um terço da receita!
Mesmo considerando os outros fatores, se o Tesouro voltasse a assumir sua verdadeira responsabilidade de pagamento das aposentadorias dos seus servidores e semelhantes, e pagasse a terça parte da arrecadação que está devendo ao INPS, a situação de Previdência seria excelente. E não precisaria praticar um verdadeiro roubo contra seus segurados, como vem ocorrendo." (Juljan Czapski - presidente do Instituto de Planejamento Estratégico em Saúde)
Clique aqui, para ver uma das reproduções da mensagem de Juljan, no Site do Citadini em 2007 (Silvia Czapski)

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Dr. Dante Montagnana


Abertura solene da Primeira Feira + Fórum Hospitalar (1994): ao centro, Dr. Hiroshi Nakajima, então diretor geral da Organização Mundial de Saúde.  Marcando a bem sucedida parceria com Sindhosp, seu presidente, Dr. Dante Ancona Montagnana (terno cinza claro).  

Nestes tempos modernos, o Facebook adquire a qualidade de ser o primeiro canal também para as tristes notícias. Foi assim que soube - por meio de Erik von Eye (com quem Dr. Juljan dividia a tarefa de representação da entidade no Conselho Estadual de Saúde) - do falecimento neste 10 de dezembro de Dr. Dante Ancona Montagnana, que desde 1994 presidia o Sindhosp, o sindicato dos hospitais do Estado de São Paulo, onde Dr.Juljan foi tão atuante. 

Dr. Dante, Dra Waleska Santos e
Dr. Juljan, em noite de homenagem
Sem outras palavras, reproduzo um trecho de "O Cavaleiro da Saúde" (páginas 289-290), onde contei um pouco sobre esse médico e sua atuação à frente da entidade. Eram os anos 1990, período pós-Constituinte em que a saúde suplementar foi ganhando o arcabouço legal e as características que hoje vivenciamos:
"... para preparar os posicionamentos do sindicato sobre qualquer nova publicação de norma, portaria ou consulta pública de interesse. Em vez de defender o setor de forma intransigente, ele [Juljan Czapski] buscava saídas aceitáveis para os dois lados. Dessa forma, dizia, conseguiriam evitar, no nascedouro, imposições impraticáveis para o segmento. O presidente do Sindhosp, Dante Ancona Montagnana, concordava com essa colocação e, normalmente, as reivindicações saíam em comunicados oficiais, assinados por ele, com Juljan como diretor científico. Em geral eram acatadas.
Visita técnica Sinhosp: Dr. Dante à esq. 
Médico, administrador, na luta sindical desde os anos 1980, Montagnana aproximara-se de Juljan em 1994, após assumir a presidência do Sindhosp. Impressionava-o a desenvoltura com que o diretor do São Jorge introduzia aspectos técnico-cientificos nos debates. Por entender que a representatividade do Sindhosp dependia de prosseguirem na luta em defesa dos interesses do setor, o novo presidente usou a visão de empresário para modernizar a estrutura da entidade.
As demandas eram um mundo. Desde acompanhar projetos de lei e outras questões jurídico-legais que pudessem afetar os estabelecimentos de saúde, até o atendimento às dúvidas dos filiados, e as infindáveis batalhas por preços justos e condições para oferecer qualidade no atendimento aos usuários.
1994 - Hospitalar: Dante Montagnana, Waleska Santos,
Ubiratan Dellape, Ines Czapski Dellape, Juljan Czapski
Nos primeiros dez anos sob comando de Montagnana, o Sindhosp consolidou sua rede de regionais no interior paulista e reforçou o apoio profissional na sede paulistana. O departamento jurídico, por exemplo, chegaria a oito advogados em tempo integral. O próximo passo seria a fundação da Fehoesp, federação estadual dos hospitais, clínicas e laboratórios, como canal mais direto de representação política.

A conjuntura era paradoxal. O subpagamento — palavra que Juljan usava para a remuneração insuficiente do governo aos hospitais — fazia que vários estabelecimentos recorressem a subterfúgios para não fecharem as portas.Por exemplo, a cobrança de um “por fora” aos pacientes. Se o governo coibisse, poderia inviabilizar o sistema do qual dependia.
De modo geral, a perspectiva era de sucateamento da rede, que não tinha como investir em melhorias. Em novembro de 1997, o Sindhosp lançou um movimento pelo descredenciamento coletivo do SUS, a partir da regional de Bauru.
 Grandes mudanças também se prenunciariam no ano seguinte, na área de planos de saúde. Mais de quarenta anos após a criação da primeira empresa de medicina de grupo no país, o setor formado pelos grupos médicos, cooperativas, entidades de autogestão e seguro-saúde — que crescera sem nenhuma regulamentação e agora atendia 25% dos brasileiros —, teria de rever o modo de operar." (fonte: 'O Cavaleiro da Saúde', pags 289-290)
Em tempo. Entro mais uma vez neste post para dar o link de uma notícia sobre o falecimento de Dr. Dante publicada no site do Sindhosp - lá você saberá mais sobre ele e seu papel no setor-saúde. Clique aqui para conferir. (Silvia Czapski)

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Senta que lá vem História...

Dr. Juljan, um dos fundadores da Federação de Administradores Hospitalares (pag 43)

O refrão me vem à mente, ao examinar o livro "Pró - Saúde: uma História de 45 Anos de Profissionalismo em Administração Hospitalar", que faz um resgate da história da administração hospitalar no Brasil, como ponto de partida para expor a trajetória dessa entidade pioneira, que soube acompanhar a evolução tecnológica, inimaginável pouco mais de quatro décadas atrás.
Ilustração no livro comemorativo
aos 45 anos da "Pró-Saúde"

As ilustrações (como a charge ao lado) são indicativos da fartura de documentos de época, materiais que poderiam também inspirar filmes, outras histórias escritas, ou mesmo um museu sobre a evolução desse segmento do setor-saúde no país.

Não dá para não registrar neste post a presença de Dr Juljan no livro, como um dos fundadores da Federação Brasileira de Administração Hospitalar (FBAH), criada em 1971 para "congregar os administradores hospitalares, promover a defesa dos interesses da classe, desenvolver esforços para a boa formação dos administradores hospitalares e empenhar-se para conseguir a regulamentação da atividade".

Assim como não dá para não mencionar aqui que este envolvimento de Dr. Juljan também está em "O Cavaleiro da Saúde", com detalhes que dão o clima da época, graças à incrível memória do amigo e pioneiro Padre Niversindo Cherubin, complementado por documentos deixados pelo próprio Dr. Juljan.

Quer saber mais? 
* O livro sobre a Pró-Saúde está disponível na internet em pdf: basta clicar aqui.
* Também vale conferir o post Em festa, de março/2011, que conta um pouco mais sobre essa história. (Silvia Czapski)

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Dr. Renato Fairbanks Barbosa


Alice Brill clicada por Gustavo Scatena Fairbanks Barbosa
Coincidências existem? Conheci o Gustavo Scatena pelos idos de 2005, como fotógrafo de um projeto da Revista Caras de traçar perfis fotográficos de imporantes artistas plásticos brasileiros.

Sairia a cada edição RSVP, direcionada aos vips. Esposa do Cavaleiro da Saúde, Alice Brill foi uma das primeiras a ser clicada. Recebeu a equipe no atelier ... mas o projeto não deslanchou. 

Acontece que as fotos ficaram tão boas (tomo a liberdade de reproduzir uma, na abertura deste post) que varias vezes pedimos autorização para usar essas imagens como "foto oficial" da artista plástica. E ele sempre autorizou. Assim foi quando Alice recebeu homenagem da Associação Brasileira dos Críticos de Arte (ABCA), que a elegeu Artista do Ano pela trajetória artística. Também aconteceu quando precisávamos de boas fotos para ilustrar catálogos de mostras individuais importantes, tais como uma no Museu da Energia (Itu - 2006), e no Espaço BM&F (SP - 2010).
 
Por todo esse tempo, ninguém de nós imaginou um elo que vai além das imagens. Até que...

... dias atrás, ao contar para seu pai sobre o lançamento de "O Cavaleiro da Saúde", o fotógrafo soube que seu avô, o médico Renato Fairbanks Barbosa, foi amigo de Juljan Czapski, marido de Alice. Mais que isso, foram companheiros de várias batalhas relacionadas às políticas de saúde.

Foi no Hospital São Luiz (fundado em 1938 pelo avô de Gustavo com com os colegas Alceu de Campos Rodrigues e Paulo Gomes Carneiro) - a famosa reunião que resultou na fundação da Abramge, ou Associação Brasileira de Medicina de Grupo, e na eleição de Juljan como primeiro presidente, em 1966.  Episódio este detalhado em "O Cavaleiro da Saúde", com bastidores inéditos desta luta emprendida por um pequeno grupo de pioneiros.

Assim como Juljan, Dr. Renato também acompanhou de perto o processo de criação e consolidação do Sistema Unico de Saúde - SUS - que chegou a classificar como "uma revolução sem precedentes". Infelizmente não tínhamos como entrevistá-lo quando escrevíamos o livro, pois nos deixou aos 92 anos de idade, em janeiro de 2006... quatro anos antes de Juljan. 

Apenas em sebos poderemos encontrar o livro "Medicina de Grupo" que Renato Fairbanks Barbosa publicou em 1968, (capa ao lado). Mas via internet, achei alguns textos bem interessantes sobre ele:
* Artigo "A Pilgrim's Trajetory",  de Cristina Iori (2005) sobre origens dessa família com muitos médicos, na revista científica Applied Cancer Research, do Hospital A.C.Camargo. 

* Como surgiu o Hospital e Maternidade São Luiz, depoimento de Roberto Capuano (2010)
* E tem, no site da Abramge, um dos textos que usamos como fonte de informações sobre a histórica reunião com Juljan e Fairbanks Barbosa, que resultou na fundação da entidade, em 1966
Agora que sei o nome completo do fotógrafo - Gustavo Scatena Fairbanks Barbosa -, aguardo ansiosa a opinião do pai dele, Renato Fairbanks Barbosa Filho - filho do cofundador da Abramge -, sobre o livro O Cavaleiro da Saúde. (Silvia Czapski)

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Bienal do Livro 2012 - 14 de agosto

Clique na imagem, para vê-la ampliada
Tem um significado pra lá de especial atender o convite da Novo Século de termos uma nova sessão de autógrafos do livro "O Cavaleiro da Saúde" na Bienal do Livro 2012, pois foi lá mesmo, dois anos atrás, que começou a aventura de publicá-lo por uma editora de maior porte.

Estávamos escrevendo o livro, eu em São Paulo e André Medici em Washington/ EUA, onde vive. E-mail era nosso principal canal para a troca de ideias. 

Tínhamos o desafio de lançar a publicação em maio de 2011, durante a Hospitalar Feira e Forum daquele ano. Era uma expectativa não apenas nossa, mas também do grupo de parceiros que viabilizaram a pesquisa e produção do conteúdo: três organizações em que Dr. Juljan atuou (Abramge, Sindhosp e Fehoesp) e três empresas (Amil, Hospitalar Feira e Forum, e Intermédica). Segunda maior feira do setor no mundo, com mais de 60 eventos simultâneos, constituia-se num espaço ideal para o lançamento.

Mas vivíamos o impacto da perda inesperada de Dr. Juljan em janeiro de 2010, após um curto período de doença. No meu caso, lutava para sobrepor o papel de jornalista e escritora à dor que sentia como filha. Por outro lado, encontramos mais de 1,5 documentos que ele deixou - em grande parte inéditos - e cerca de 100 textos de sua autoria. Material preciosíssimo, pelas informações novas e esclarecedoras para a História recente do país.

Foi nessa época, em agosto de 2010, que tirei uma tarde para visitar a Bienal do Livro. Entrei no estande da Novo Século casualmente durante o lançamento da biografia de Affonso Brandão Hennel, escrita por Elias Awad, jornalista e biógrafo de importantes empresários brasileiros, sempre pela editora. 

Diretor presidente da Novo Século, Luiz Vasconcelos estava lá. Interessou-se pela história de Dr. Juljan, criador da primeira empresa de medicina de grupo e dos planos de saúde no país. E assim nasceu a parceria que nos permitiu fazer um livro maior, mais completo e com distribuição garantida em todo país. Sem muito alarde, o livro também já existe na versão e-book.

A sessão de autógrafos acontece na terça feira, 14/8, das 11h30 às 12h30, no estande da Novo Século (rua H-70, próximo ao espaço infantil). Tomara que possa estar lá! (Silvia Czapski)


sexta-feira, 15 de junho de 2012

A Banda

Era quase um ritual que fechava o final de semana no início dos anos 1960, que só foi mencionado em "O Cavaleiro da Saúde", sem os detalhes que voltam à minha memória neste mês de junho, com os festejos de 100 anos da Corporação Musical União dos Artistas, mais conhecida como Banda de Itu. 

No domingo à noite, após lotar o bagageiro com os 'produtos do sítio', a kombi de serviço do Cavaleiro da Saúde recebia dois colchonetes, que forravam os vãos entre os bancos de passageiros. Tomávamos um lanche e partíamos para a viagem de 2,5h até São Paulo.

Sempre assim: Dr. Juljan e Alice no banco dianteiro e os filhos atrás. O meu lugar era num dos colchonetes, de onde eu curtia o céu superestrelado até adormecer. 

A banda em 1912, ano de sua fundação (divulgação)
Mas ninguém dormia antes de pararmos no centro de Itu. Na praça do Carmo, a fonte luminosa era imperdível para nós, crianças.

Logo ao lado, na Praça da Matriz, a Banda de Itu se apresentava no coreto. Com direito a observarmos o footing: homens caminhando numa direção da calçada e mulheres na outra, jogando seus olhares para pescarem a atenção do par ideal. 

Quando surgiu o primeiro long play da Banda - já aclamada como a melhor do país - claro que conquistou um posto na vitrola da fazenda, quando Dr. Juljan queria demonstrar sua qualidade a visitantes que pouco conheciam Itu.

São lembranças reavivadas pelos eventos em torno do já mencionado centenário desta banda. Além de apresentações musicais, houve o lançamento de um livro assinado pela pesquisadora Anicleide Zequini e por Maria Célia Bombana, personagem em "O Cavaleiro da Saúde" que divide comigo a autoria do "Hortas na Educação Ambiental". 

Editado pela Editora Ottoni, cuja maior especialidade são livros sobre a história regional, o texto baseia-se em dezenas de entrevistas e pesquisas em arquivos históricos da cidade, de onde também saiu a maior parte das 82 imagens que ilustram a obra.

Claro que a notícia saiu com maior destaquenos veículos da região. Mas quero começar pelo destaque de uma nota do jornal O Estado de São Paulo, curta e significativa:
A festa do IV Centenário de São Paulo, em 1954, e a abertura da Rodovia Transamazônica, em 1972, tiveram algo em comum: a Corporação Musical União dos Artistas, mais conhecida como Banda de Itu. Prestes a completar 100 anos no sábado, a banda vai ganhar na sexta livro sobre sua história, escrito por Anicleide Zequini e Maria Célia Bombana.
Quer saber mais? Eis alguns links:



Quer comprar?
Trabalho de fôlego das autoras, o livro " A Banda de Itu - Cem Anos de lutas e glórias" está à venda na Corporação Musical União dos Artistas (11-4023-1654, segundas, quartas e sextas, das 13 às 17h), com renda revertida para a entidade. (Silvia Czapski)

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Buscando o recorde



Quem corre descobre sua própria identidade. Esta foi a frase de autoria própria que Luciano Prado dos Santos colocou num quadro inspirado no livro Cavaleiro da Saúde, que leu com entusiasmo no final de 2011. Contou, na época, sua incrível história de superação, de como - sem recursos e sentindo-se gordinho - escolheu a corrida como esporte, descobriu a modalidade em esteiras e sobrepujou quaisquer dificuldades pessoais, para buscar recordes.

A modalidade não é moda, no Brasil o patrocínio é dificilimo. Mesmo assim, tornou-se recordista mundial da corrida em esteiras em 2004, e agora trabalha para voltar ao Guiness, já que sua marca foi ultrapassada por um esportista australiano.

Pois bem, inspirado na leitura do livro, Luciano fez o quadro acima. E, graças ao quadro - artesanato que inventou com palitos de fósforo usados e retalhos de arame - despertou o interesse de Dra. Waleska Santos, presidente da Hospitalar, e de sua equipe, que lhe preparou um espaço especial em área de grande visitação na Feira+Fórum Hospitalar 2012, para que tentasse bater o sonhado novo recorde.

Abaixo, o release que conta mais sobre o esportista, e sua batalha, ancorada numa fiel equipe de apoio. (Silvia Czapski)

Ultramaratonista Luciano Prado tenta recorde mundial na Hospitalar 2012
O ultramaratonista brasileiro Luciano Prado espera bater, nestas sexta feira (25 de maio) o recorde mundial da modalidade corrida em esteira, correndo por 24 horas ininterruptas na Feira+Forum Hospitalar, que acontece entre os dias 22 e 25 em São Paulo. 
Luciano, na Hospitalar 2012
Quer, deste modo, repetir seu próprio feito de 2004, quando percorreu 249,6 km em esteira, também em 24h, superando a marca Guiness que até então pertencia a Serge Arbona, dos EUA, com 245,05 km. "Estou preparado para bater novo recorde mundial. Meu desafio é percorrer 258 km", avisa o atleta.
Em cerca de 20 anos de carreira, já são mais de 60 competições importantes em que participou, em países como Argentina, Espanha, Rússia, Taiwan e Holanda, além do Brasil. Foi campeão em 11 ocasiões - inclusive numa corrida sul americana de 48 horas no Arizona (EUA - 365,2 km) e vice em outras cinco, entre as quais o segundo melhor sul americano numa ultramaratona de 24h em Taiwan, China.
O país tem poucos os ultramaratonistas, e a maioria não é filiada à Federação Brasileira de Atletismo, relata Luciano, que porém é otimista. "É gostoso superar os limites, mesmo com todas as dificuldades. Trata-se de um exemplo de vida que a gente deixa para todas as pessoas. Espero que com a busca do recorde, as empresas passem a apoiar esta modalidade de esportes no Brasil, assim como acontece lá fora. E que tenhamos mais competições de longa distancia, hoje raras no Brasil"
Equipe Amantes da natureza
Mesmo esportes aparentemente solitários como a corrida em esteiras dependem de uma equipe que o ajude a alcançar o recorde, com eficácia, equilíbrio e saúde. 
Há 25 anos Luciano é orientado por Heroi Fung, "um grande amigo e paizão", pelo médico de medicina esportiva Dr. Marcelo Archeboim e o renomado fisiologista Dr. Turíbio Leite de Barros, que realizam o trabalho voluntariamente. A esposa Angelita e filha Luciana complementam a equipe de corrida que ganhou o nome "Amantes da Natureza". 
História Superação
Gordinho e sedentário na adolescencia, Luciano Prado entusiasmou-se com a ideia de fazer atletismo, pela leitura de um livro sobre o tema, aos 19 anos de idade. Sem condições econômicas para se inscrever em academia, aproveitou o fato de morar perto do Horto Florestal, importante área verde da capital paulista. Começou a correr diariamente por lá, sem orientação técnica. Daí a um ano, inscreveu-se em sua primeira maratona. Apesar da inexperiencia, foi relativamente bem.
Em 1986 - já com um treinador que viu nele a vocação para longas distâncias - inscreveu-se para uma corrida de 100 km em Angra dos Reis. Para sua surpresa, ganhou 2o lugar. Nunca mais parou. Por ser esporte de raros patrocinadores, continuou a trabalhar na área técnica em emissoras de TV, sem abandonar as corridas. 
Certa vez, sofreu uma forte lesão muscular que o obrigou a deixar a corrida por longo tempo. Inventou, no período de convalescença, bonequinhos-corredores, feitos com dois palitos de fósforos usados e retalhos de arames encapados, desses que técnicos de telefonia largam no chão das calçadas. Tornaram-se base para bottoms, imãs de geladeira e até a telas. 
Mais recentemente, vendo-se desempregado, encontrou na coleta de sementes um motivo para manter o alto astral. Cria mudas de árvores, doando-as a quem se disponha a plantar.
O atleta acostumou-se a atrair o público enquanto corre. Segunda maior feira do setor no mundo, a Hospitalar espera receber mais de 80 mil visitantes nos quatro dias de funcionamento. Perguntas do público, diz ele, ajudam-no a sair do tédio.
PS: Repetindo Henfil "se não houver frutos, valeu a beleza das flores; se não houver flores, valeu a sombra das folhas; se não houver folhas, valeu a intenção da semente." 

Não foi dessa vez. Luciano completou o tempo - 24 horas ininterruptas de corrida numa esteira, em espaço especialmente preparado pela Feira+Fórum Hospitalar. Mas não conseguiu bater o sonhado recorde sobre si próprio em 2004, e o australiano que o ultrapassou.

Na foto ao lado, ve-se ao fundo o telão que destaca o desafio, enquanto ocorria. Acima, outro ângulo, com o relógio que marca o tempo corrido.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Sessão de Autógrafos nesta quarta, 23/5!

Com alegria, uso este espaço para divulgar uma nova sessão de autógrafos do livro "O Cavaleiro da Saúde", num local que ele tanto amou: Feira+Fórum Hospitalar.

De um lado, aproveitamos a presença de André Medici em São Paulo, justamente para participar do Congresso Latino-Americano de Serviços de Saúde - idealizado por Dr. Juljan na primeira metade dos anos 1990 e viabilizado pela Hospitalar como o primeiro evento simultâneo à feira.

Hoje, temos 60 eventos, entre congressos, seminários e afins, e mais de 1250 expositores na feira, gerando a impressionante estimativa de um público de 80 mil pessoas. Quem precisa se hospedar em hotéis sente que São Paulo fica pequena para tantos visitantes.

Esperamos contar com sua presença, nesta quarta-feira, 23/maio, ao meio dia. E claro, também contar com seu apoio na divulgação. 

Dica importante - pretende ir e não tem inscrição em evento da Hospitalar? Não esqueça de levar o convite: imprima a imagem (ou a notícia completa) e não deixe de trazer. Se possível, também mande mensagem para juljan85@gmail.com, confirmando a presença. (Silvia Czapski)
 

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Tornando o interessante ainda mais interessante

Tem certas histórias que ficam ainda mais interessantes na medida em que recebem novos detalhes. É o caso da de Siegfried Czapski (tio-avô de Juljan Czapski, o Cavaleiro da Saúde) e sua participação na história de sucesso tão única da Zeiss - na virada do século 19 para o 20 - cuja inserção neste blog entusiasmou muitos leitores.

Adianto que não estranharei a repercussão positiva desta nova narrativa de Juergen Koch - o neto de Siegfried e primo de Juljan que aparece na foto ao lado (2007) e que, aos 97 anos, nos brinda com dois interessantíssimos complementos ao post anterior.

Como o próprio Juergen definiu, são histórias que revelam facetas da vida familiar dos Czapskis na Polônia, e certamente influenciaram a personalidade de Juljan, formando um espécie de capítulo colateral do livro "O Cavaleiro da Saúde ",  exclusivo para quem acompanha este blog.

Novamente, traduzi e editei, trazendo aqui quase na íntegra o longo emocionado e-mail de Juergen. Vale a leitura:
"Estimada Silvia,

Lembro-me como se fosse ontem de nosso encontro em San Isidro
[belo bairro periférico de Buenos Aires, onde Juergen morava em 2007]. Se você mantiver contato, peço para mandar minhas saudações também para Elisabete [Rodrigues, que esteve junto, naquela ocasião].

Li e reli seu texto, é uma tradução e remodelação muito boa do que eu tinha escrito. Mas gostaria de acrescentar duas observações para dar uma imagem mais completa.


A primeira é sobre a transformação da Zeiss, de um processo artesanal para indústria óptica.
Faltou mencionar mais um problema a ser superado para viabilizar uma atividade verdadeiramente industrial:
a provisão da principal matéria prima, o vidro.

Tenhamos em mente que esse material tinha de ser buscado pelos artesãos da época em alguns mercados de pequeno porte, um das quais era Paris.

Viajavam para lá, compravam o vidro em blocos do tamanho de 1 ou 2 tijolos, carregavam essa carga pesada de volta para suas oficinas, onde tinham de cortar da maneira planejada por eles, para chegar ao tamanho e formato de uma lente, e finalmente polir.

O principal problema - além da dificuldade no procedimento em si - era a presença de impurezas de densidade decorrentes de irregularidades no resfriamento da massa de vidro, que eram capazes de provocar desvios e distorções nos raios de luz, tornando inútil tudo o que
[Ernst] Abbe arquitetara.

Sem resolver este obstáculo, Abbe
[de quem Siegfried Czapski, tio avô do Cavaleiro da Saúde, foi assistente e sucessor] sabia não chegaria onde queria. Encontrou então Otto Schott, um jovem perito em vidros que pesquisava o assunto, e o convenceu a se estabelecer em Jena, garantindo-lhe todas as facilidades para novas pesquisas, inclusive a instalação de novos fornos para a produção.

E então, juntos, eles conseguiram atingir o objetivo de produzir placas de vidro opticamente puros. Foi uma revolução absoluta neste setor, que pavimentou o caminho para a produção de milhões de lentes ópticas, destinadas  à instalação em microscópios, telescópios, lentes de correção da visão humana, objetivas de alta precisão fotográfica, e até para planetários, estes sensacionais teatros em que se reproduzem os movimentos de todas as estrelas visíveis a olho nu por milhões de anos.


Importante mencionar que, depois disso, ainda ocorreu o desenvolvimento, por Otto Schott, do Jenaer glas, um vidro para uso doméstico e industrial que pode ser exposto a altas temperaturas.


O segundo ponto é uma complementação que eu gostaria de inserir, sobre a minha avó, Marguerite, esposa de Siegfried, mencionada no final do texto anterior.

Marguerite nasceu em Brest, mas foi criada em Paris como a filha de Louis Koch, um professor de escola. Era sobrinha de Juliette Drouet, que foi a amante de Victor Hugo por cinco décadas - tendo inclusive compartilhado o exílio que ele sofreu durante tantos anos nas Ilhas do Canal da Mancha, em razão de sua violenta oposição contra o último rei de França, que ele costumava chamar de "Napoleão I Petit " [o pequeno] -  com a tolerância   da esposa do Hugo.

Finalmente em 1871 o rei foi destituido e ela acompanhou Victor Hugo em seu retorno a Paris, vivendo, nos anos seguintes, na casa dele (hoje museu Victor Hugo), dado o falecimento da esposa.

Margarite frequentou quase diariamente esta casa, onde vivenciou a intensidade da vida literária e política deste grande poeta, que chegou a ser parlamentar, precursor da idéia de uma Europa unida, defensor dos direitos humanos, promotor da lei de propriedade intelectual, entre tantas outras coisas que faziam dele o personagem mais amado, famoso e também odiado naqueles anos de recém-criada República Francesa.

Assim foi até que Hugo morreu em 1885, provocando um cortejo fúnebre que, segundo os cronistas de então, reuniu mais de 100 mil pessoas.


Portanto, foi neste ambiente em que conviveu toda a elite cultural, política, artística e humana de França, formou-se a minha avó. Falava três idiomas correntemente, tocava primorosamente piano, especialmente Mozart, e foi quem influenciou mais fortemente minha formação juvenil, praticando quase que diariamente música de câmara comigo e meus amigos, e também a leitura de livros franceses em direito e outros assuntos .


Vejo com real prazer que, com estas contribuições, estamos compondo um capítulo colateral de "O Cavaleiro da Saúde ", que transmitem aos leitores do blog algo mais sobre o ambiente familiar dos Czapskis. Haveria mais coisas para dizer, mas não gostaria de me alongar demais.


Mais uma vez agradeço por sua amizade eu lhe asseguro é mútua."

Juergen Koch
Pesquisei, da última vez, sobre Zeiss e os Czapski, agora recorri aos sites de busca, para encontrar mais sobre Victor e Juliette.

Inglês 
Juliette na wikipedia
* Victor e Juliette 
* Cartas de Juliette a Victor Hugo - no arquivo nacional dos EUA (livro originalmente publicado em 1914, disponível para download)

Francês / Português
* Uma carta de amor, de Victor para Julliette

Para facilitar, clique aqui, para acessar o primeiro relato de Juergen, que este post complementa (Silvia Czapski)

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Dois anos sem Dr. Juljan
e uma interessantíssima história


Tão rápida e tão lentamente. Neste 12 de janeiro completou-se mais um aniversário do falecimento de Juljan Czapski, o Cavaleiro da Saúde. Dois anos.
Quem primeiro me lembrou a data foi Juergen Koch, primo de Dr. Juljan que há muitos anos vive na Argentina e, aos 97 anos de idade, apoia-se na internet para se corresponder com parentes e amigos fisicamente distantes.
Com sua incrível memória, Juergen foi fundamental para que eu reconstituisse, no livro O Cavaleiro da Saúde, a vida dos Czapskis na fazenda Obra, em Poznan/Polônia, antes da II Guerra Mundial. Ele  a frequentou, conheceu os personagens, bem como a saga da família que teve de abandonar tudo por lá de repente... mas isso está no livro, não vale contar aqui!
Eu o conheci somente em 2007, quando, por dica de Juljan, fui visitá-lo num belo subúrbio de Buenos Aires. Levei uma amiga, a paulistana Elisabete Rodrigues (na foto, com Juergen). Ele esperou-nos na estação ferroviária, levou-nos a um simpático restaurante-café onde todos os conheciam. Conversa longa e agradável, numa tarde quente e chuvosa de dezembro.
Passamos a trocar mensagens esporadicamente no início, mais constantes após o falecimento de Juljan, em 2010. Falha minha, demorei um pouco para lhe remeter um exemplar do livro, que ele esperava com justa ansiedade.
E então, semanas atrás, ele me emocionou com uma nova mensagem, na qual - para corrigir uma incorreção na página 109 - presenteou-me com uma história incrível, que poucos conhecem no Brasil. Trata-se de uma experiência empresarial única no mundo, na virada do século 19 para o 20, em que um dos personagens foi Siegfried Czapski, que também aparece em O Cavaleiro da Saúde como tio-avô de Juljan que ajudou a família num momento dramático da vida em Obra.
Guardei o depoimento - sobre Siegfried e a mundialmente conhecida indústria óptica Carl Zeiss - para publicar num momento especial. Fui impedida de faze-lo ontem - 12/1 - devido a um black out nos serviços de telefonia e internet. Segue agora. 
Estimada Silvia,
Há muito tempo te devo esta carta, mas devo confessar que a leitura de seu livro [O Cavaleiro da Saúde], sobre o seu pai tem avançado lentamente, pois - apesar de compreender bem o português - demoro mais na leitura de outros idiomas.
Devo dizer-te que considero seu livro verdadeiramente excelente. Independentemente da carga emocional de tudo o que se refere ao que me era familiar, encontrei nele uma excelente biografia que descreve o desenvolvimento de um homem, sem dúvida alguma excepcional, seja no seu desenvolvimento pessoal, familiar ou no seu crescimento profissional ante os desafios que enfrentou. [obs: primo mais velho de Juljan, Juergen foi hóspede na fazenda Obra, antes da II Guerra Mundial]
Além disso, o livro oferece um excelente quadro do que significa a implementação do sistema de saúde pública em seu país, bem como os aspectos legais e constitucionais e dá, em geral, um panorama abrangente sobre o assunto no mundo ocidental. Já li dois terços e, com satisfação, prossigo na leitura.
Mas gostaria de apontar duas incorreções que observei na página 109, onde você mencionou meu avô Siegfried Czapski como fundador da fábrica Zeiss e como avô de Reinhardt.
Em verdade, Reinhardt não foi neto, e sim o penúltimo dos oito filhos de Siegrfried, que era um dos irmãos de Julian, teu bisavô e avô de Juljan. (...)
Além disso, meu avô Siegfried não foi o fundador da Zeiss, mas o mais estreito colaborador e primeiro sucessor de Ernst Abbe, o lendário físico que ingressou na empresa como um jovem acadêmico, para colaborar com o artesão óptico Carl Zeiss, que montava microscópios e telescópios na cidade de Jena, assim como se fazia em meados século XIX: lentes de diferentes tipos eram combinadas empiricamente, até obter o efeito desejado, seja como microscópio ou telescópio.
Abbe empreendeu a tarefa de usar o método científico, monitorando e medindo as combinações de cada fração das distintas lentes, de tal modo que, ao se chegar a um resultado positivo, era possível repetir o processo com igual combinação, para construir equipamentos do mesmo tipo. Foi o passo definitivo para a evolução do artesanato para a indústria. O retorno foi fantástico: centenas de milhares de microscópios vendidos no mundo todo, fazendo da Zeiss a indústria ótica do mundo.
Com os grandes lucros, Abbe comprou a parte de Zeiss e aí, como único proprietário da indústria, converteu-a em uma fundação, que doou aos funcionários. Ele, filho de trabalhadores muito humildes, entendia assim o socialismo.
Inicialmente, o procurador-geral foi o próprio Abbe, que pediu ao grande físico alemão Helmholtz que designasse um estudante para ajudá-lo. Foi assim que Siegfried chegou à indústria, como um  colaborador de Abbe.
A fábrica seguia dando fabulosos lucros que retornavam como benefícios aos trabalhadores, na forma de aposentadorias, pensões, férias, educação dos filhos, casas; ao lado de benfeitorias para a cidade, com a subvenção de tudo: bibliotecas, universidade, concertos, clínicas (...). A direção da empresa estava nas mãos de um comitê científico, que se renovava por eleição de novos membros entre eles mesmos.
Quando Abbe faleceu, em 1905, Siegfried tornou-se seu primeiro sucessor, nomeado conjuntamente pelo comitê científico e os representantes dos trabalhadores. Os lucros da fábrica continuaram a voltar para os trabalhadores, no conceito de dividendos anuais.
Que eu saiba, trata-se de um caso único na história mundial. Impressionante a repercussão social e política da transformação da empresa privada em uma fundação pertencente aos trabalhadores, e também a mudança de mentalidade da população local.
Pois na pequena cidade de Jena os trabalhadores da Zeiss - que predominavam em meio a classe operária industrial - converteram-se em burgueses, distanciados dos extremismos, seja de esquerda ou de direita. Em Jena, deixou de haver proletariado e os poucos comunistas que lá surgiram eram muitas vezes universitários, simpatizantes da ideologia.
Você sabe que Hitler, em sua campanha para chegar ao poder, visitou todas as cidades da Alemanha, exceto Jena. É que qualquer promessa na área social teria como resposta o sorriso irônico de quem era ligado à Zeiss e já tinha tudo.
Infelizmente, Siegfried faleceu dois anos depois de Abbe, em decorrencia de operação de apendicite, na época ainda muito perigosa.
Reinhardt nasceu em 1902, era portanto 23 anos mais velho que seu pai. Depois de se formar, foi aprendiz comercial da Zeiss. Em seguida, trabalhou vários anos numa filial deles em Buenos Aires e, finalmente, na década de 1930, foi diretor da sucursal em Amsterdã, onde a direção de Jena conseguiu mantê-lo afastado das ameaças decorrentes de sua ascendência judaica.
Quando os nazistas ocuparam a Holanda, durante a II Guerra Mundial, ele passou à clandestinidade, mas sobreviveu à guerra. Pensava em abrir algo na América do Sul, mas depois deixou a idéia de lado, vivendo o resto de sua vida em Wiesbaden (Alemanha) como homem de negócios. A mãe dele [esposa de Siegfried] era a francesa Marguerite Koch (coincidência casual de sobrenome), de uma enorme cultura e iniciativa humanitária, em especial para a maternidade natural.
Apesar deste relato não ter relação direta com o seu livro, eu pensei que você conhecia muito pouco disso. Há um livro sobre Siegfried Czapski, escrito por outro neto dele, meu primo Andreas Flitner, a quem você mencionou em O Cavaleiro da Saúde num outro contexto. Este livro deve estar na biblioteca de seu pai, porque Flitner mencionou isso para mim.
Dias depois, na mensagem em que autorizou a publicação da mensagem, Juergen acrescentou mais um comentário: 
"Gostaria de mencionar - escreveu ele - o quanto me interessou e emocionou a carreira de sua mãe [Alice Brill], com sua atuação artística desenvolvida em acordo com seu pai. Eu a conheci uma vez, brevemente, em Buenos Aires quando ele esteve aqui com seu ele."

Corri para a sites de busca, aprendi ainda mais: Siegrfried Czapski e a esposa,  Andreas Flitner e seu livro estão na Wikipedia... em alemão! Há também um link em inglês, com opção do italiano:
Inglês
* Siegfried Czapski  (também italiano)
Alemão (Wikipedia e afins)
* A esposa Margareth (ou Marguerite)
* ... e o sumário do seu livro - Optics - technology - social culture. Siegfried Czapski, way companion and successor Ernst Abbes. Letters, writings, documents (com Joachim Wittig
Não podia deixar de compartilhar esta história, que faz parte dos bastidores da vida do Cavaleiro da Saúde. (Silvia Czapski)