quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Alice e Juljan

Trecho de carta de Alice Brill para a Galeria Quatro Artes - 1965
Passaram-se quase seis meses e só agora, ao encontrar cópia desta curiosa carta dirigida à Galeria Quatro Artes de Ribeirão Preto/SP, tomo coragem de escrever sobre a partida de Alice Brill Czapski, a companheira de Dr. Juljan por mais de seis décadas que faleceu há quase seis meses, na madrugada 29 de junho deste 2013. 

Curiosa, por revelar uma faceta de Dr. Juljan (o marido mencionado na carta), desconhecida por quase todos que partilhavam das atividades dele como médico, batalhador pelas políticas públicas de saúde e defensor da causa ambiental.  

Alice chegou ao Brasil em 1934, fugindo do nazismo, em ascensão na Alemanha onde ela nascera. Tinha 13 anos e o sonho de seguir a carreira do pai, artista plástico. Por ser  impossível viver de arte, buscou emprego em outras áreas. Conheceu Juljan quando contratada como secretária da firma fundada pelo pai dele, que existiu por poucos anos. 

Viveram um fascinante período, em que, juntos, assinaram a ata de fundação do Museu de Arte Moderna, erigiram a Casa Czapski, projeto assinado pelo hoje famoso arquiteto Vilanova Artigas. Também juntos trabalharam com fotografia nos anos 1950: ele, como assistente dela, enquanto cursava medicina na USP. Mais tarde, os papéis se inverteram para Alice se dedicar às artes, filosofia, ensino e escrita. 

Ao escrever O Cavaleiro da Saúde dei-me conta do quanto as duas carreiras continuaram entrelaçadas. Um exemplo está no trecho da carta que abre esse post. Na época, Juljan lutava com todas suas forças para enfrentar a oposição à Medicina de Grupo, ao mesmo tempo em que dirigia sua Policlínica Central. Nada disso o impediu não só acompanhar a esposa Alice numa exposição fora de São Paulo, onde viviam, como ajudar na sua montagem.

Em 1973, foi a vez de se evidenciar a colaboração de Alice, que ofertou a arte da capa dos Anais do Segundo Congresso Internacional de Medicina de Grupo (acima) primeiro grande evento internacional organizado pela Associação Brasileira de Medicina de Grupo, a Abramge, que Juljan presidia. Realizado em 1973 no então glorioso Hotel Nacional do Rio de Janeiro, o evento atraiu mais de mil participantes do Brasil e Exterior, número impressionante para a época e os parcos recursos disponíveis.  

O Cavaleiro da Saúde está repleto de descobertas como essas, reveladoras de uma convivência especial entre duas pessoas de carreiras tão diferentes.  (Silvia Czapski)

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