quarta-feira, 4 de maio de 2011

Animais de estimação

Acho que não existe foto da família Czapski completa, sem um cachorro de estimação por perto. Mas, no caso de Juljan, nos primeiros dez anos de São Paulo (anos 1940), foi impossível possuir um.

Como cuidar, trabalhando de dia, estudando à noite e vivendo sozinho num quarto alugado, na rua João Moura, no bairro Pinheiros, ou - logo que casou - num minúsculo apartamento em que quarto era também sala, e o corredor era aproveitado como laboratório fotográfico, na Avenida São João, 1901?


Em 1950, Alice estava em sua fase-fotógrafa, Juljan estudava medicina e era seu assistente, e a filha primogênita, Ines, era um bebê. A "casa Czapski" ficou pronta (nome dado mais tarde à residência, quando o amigo Vilanova Artigas, que a projetou, tornou-se famoso arquiteto)


A região - no bairro Sumaré - era quase deserta, Alice disse que só mudaria se tivessem um cão de guarda. Juljan foi ao biotério da faculdade para adotar um. Avisaram:


- Tem aqui um cachorro bravo, late muito.


Ele levou.


Pois bem, o cachorro acostumou-se à família e vice-versa. Mas jamais fazia barulho para um estranho. Só que, quando percebia alguém conhecido, pessoa amiga descendo lá da rua de cima, claro que começava a latir com o maior vigor e o rabo abanando, para manifestar sua alegria.


Os pais e irmãos de Juljan moravam na época na fazenda Vitoriana, em Botucatu, onde o pai trabalhava como administrador. Juljan resolveu levar o cachorro para aprender a latir com os cães dos Czapskis, na fazenda.


Na época, já era obrigatório transportar os animais em um compartimento próprio, num vagão específico do trem.


O trem não saia... não saia... e os funcionários chamavam:
- "Pelamordedeus", quem botou aquele cachorro bravo que está lá?


Era o cachorro de Juljan. Quando o animal viu o dono, saiu feliz do vagão, manso, abanando o rabo.


Perguntei para meu pai: - O cachorro aprendeu alguma coisa com os cães em Botucatu?
Juljan: - Ele ensinou os cães de meus pais a pular pela janela para fora [risos]


Se você conhece minha família, saberá o quanto é típica essa história! Mas não deve ser esse "causo" que entrará no livro sobre o Cavaleiro da Saúde, pois há outras histórias com animais, ainda mais curiosas, como a do vistoso galo Polidáctilos, que subia no colo de Juljan e Alice, dos amigos-namorados Eva Lieblich e José Eduardo Fernandes, e aparece na foto ciscando comida direto da mão de Juljan e a amiga Eva, naqueles idos anos 1940... (Silvia Czapski)

Um comentário:

  1. Oi, Sílvia,
    Muito boa essa
    história do cachorro que era "bravo"!
    Me lembrou muito o meu pai, também de São Paulo, e a minha infância nas férias era na casa da minha tia Drina, no bairro Sumaré. Tinha até realejo na rua!!
    Adoro São Paulo, tenho uma ligação muito grande com a cidade, raízes antigas, que começaram em Sâo Paulo, com meus avós e toda a família por parte de pai, e continuam com minha família em S. Paulo e os meus amigos paulistas, entre eles, você, Sílvia, que foi quem me levou a conhecer o Pedro, a Lois, Angela, Ailton, e o Admilson! Obrigada, por tudo.
    beijos da amiga
    Ana.

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