quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Juljan e Alice embrenhados numa mina de Carvão

"Nossa reportagem em companhia da esposa do diretor da mina no fundo dum travessão. Nem sonhar em endireitar as costas!" (legenda da foto feita por Juljan Czapski, em que Alice Brill, a namorada, está ao centro)




"Nossa reportagem é festivamente despedida na estação".
(Legenda da foto em que Juljan Czapski está, com o chapéu mais claro, atrás do menino)

O título da reportagem parece provocação. “O Outro Ouro Negro”.

O Brasil tinha vivido a campanha O Petróleo é Nosso. Mas, no início dos anos 1950, só 7% do petróleo usado no país era produzido por aqui. O carvão mineral - que impulsionou no passado a Revolução Industrial na Europa - também era explorado, mas tido como fonte energética marginal, como se tivesse pouca importancia.

É a época em que os namorados Juljan Czapski e Alice Brill visitaram a mina de carvão no Rio do Peixe, perto de Nova Wola, a fazenda dos Czapskis. Ele estudava medicina, e ela sonhava em ser artista plástica, mas, para sobreviver, fazia fotografia. Ele trabalhava com ela.

O artigo foi encontrado numa caixa, junto com as fotos que ilustram esse post. O conteúdo do texto é uma aula. Que revela o interesse e o conhecimento do estudante de medicina por temas médicos e de saúde pública.

Por outro lado, quem estiver em São Paulo e visitar a exposição de Alice Brill no Espaço Cultural BM&F (aberta até final de dezembro/2010) verá um quadro que ela fez, justamente em Figueira - o povoado próximo à mina! (é o intitulado "Queimando o Judas")

Em tempo - o acidente no Chile coloca em evidencia o tema no mundo todo. A reportagem de Juljan e Alice, dos anos 1950, menciona riscos das minas, naquela época. Após um preparo do local, a exploração se dava por meio de explosões de dinamite, abaixo da terra. Se se formassem gases venenosos, a lamparina começaria a piscar. Era o único sinal de alerta. "O mineiro foge o mais depressa possível até a boca da mina. Uma demora pode significar o risco de morte", informa o texto. E, apesar de tudo, na conversa com os mineiros, o casal percebeu a satisfação com o trabalho.

Trata-se de mais um incrível achado, um novo insumo inédito para o livro sobre Dr. Juljan Czapski, o cavaleiro da saúde. Mas o ideal seria saber onde foi publicado, pois achamos apenas parte das fotos e o rascunho. Será que alguém teria uma dica? (Silvia Czapski)

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Onde tudo começou


Esse cartão postal faz parte do acervo de Alice Brill, que já era esposa de Dr. Juljan Czapski, quando se tornou uma conhecida artista plástica (e também fotógrafa, filósofa, escritora, mestra, mãe...).

É dos anos 1930, época em que ela aportou na cidade do Rio de Janeiro, por causa da ascensão do nazismo na Alemanha. Vale lembrar que Brasília ainda nem estava nos planos de ser construida - o Rio de Janeiro que vemos na foto era a Capital Federal. A cidade tinha ainda mais ou menos o mesmo aspecto em 1941, quando lá aportaram os Czapskis, já durante a Segunda Guerra Mundial.

Para os Czapskis, a chegada foi o coroamento de uma aventura incrível, que estará no livro sobre o "cavaleiro da saúde".

Só para dar um gostinho dessa história, eis um dos documentos que comprova um dos lances de uma caminhada de quase dois anos por meio à guerra. Fryderik e Ilza, os pais de Dr. Juljan, guardaram com o maior carinho, levando-o junto nas 22 mudanças de casa (e muitas vezes de cidade), que tiveram de fazer no Brasil.

Trata-se de uma carta da Câmara Polono-Latinoamericana, de apresentação do pai de Dr. Juljan à "Sua Excelência o Senhor Manoel Ribas, D. D. Interventor Federal do Estado do Paraná", escrita pouco antes da guerra. Estávamos em pleno Estado Novo, e todos estados eram governados por interventores.

O contato foi concretizado, durante uma curta visita de Fryderyk no Brasil. Depois, a família Czapski conseguiu migrar para o Brasil, porque o interventor se propos a intermediar a necessária autorização de um visto (sem um visto prévio do país receptor, ninguém podia sair da Europa em guerra).

Incrivel ver, em retrospectiva, como o que poderia ter sido apenas um pequeno acontecimento - visita oficial de um estrangeiro à maior autoridade no Estado durante uma viagem - abriu as portas para a família Czapski iniciar nova vida no "novo mundo". (Silvia Czapski)