sábado, 17 de outubro de 2015

Quem afinal criou a Medicina de Grupo no Brasil?

Congresso Internacional de Medicina de Grupo, RJ, 1973: (esq. para dir.) Dr. Silveira Pinto, ex-Samcil, é o terceiro e Dr Juljan - então presidente da Abramge, mais alto e ao centro - conversa com o então ministro da saúde (de bigode)


Duas folhas de papel datilografadas só agora encontradas trazem à luz um evento varrido pelo tempo, que teria enriquecido ainda mais o conteúdo do livro Cavaleiro da Saúde se antes descoberto.


Trata-se de cópia-carbono, não assinada e não datada, de carta endereçada à então poderosa Revista Manchete. Só que, pelo conteúdo, é fácil adivinhar que foi escrita em 1970 por Henning Von Koss - diretor de RH da Volkswagen do Brasil em 1957, quando a Policlínica Central conquistou a conta da indústria, então com apenas 129 funcionários. 

Ela contesta, contundentemente e com fatos, afirmações de Dr. Luis Roberto Silveira Pinto, que se autointitulou na reportagem idealizador e fundador da Medicina de Grupo no Brasil. O principal: registro da Samcil, de Silveira Pinto 4 anos depois do da Policínica, do Cavaleiro da Saúde.


Leia a carta transcrita abaixo (negritos meus), até porque essa lenda ainda persiste em alguns setores. No final, trago complementos, inclusive algo que não pude publicar no livro.


À
MANCHETE

Prezados Senhores,

Tive a oportunidade de ler, no nº 971, de 28 de novembro último, da sua conceituada revista, sob "Brasil em Manchete", à página 167, o artigo que se refere a "Um jovem pioneiro na Medicina de Grupo", Neste artigo, V. S.as, informam que, no fim de 1960, o jovem médico Luiz Roberto Silveira Pinto, recém-saído da Escola Paulista de Medicina, viu-se com o diploma nas mãos e dois cami­nhos pela frente, isto é, ser funcionário público ou abrir consul­tório particular, tendo repelido a ambos. Que, em viagem no ex­terior, entrou em contato com uma experiência fascinante, a qual, de volta ao Brasil resolveu dedicar-se por inteiro, ou seja, introduzir a Medicina de Grupo em nosso País.
Diz, ainda, o referido artigo, que o trabalho do Dr. Luiz Roberto frutificou no Brasil e seus resultados têm sido tão bons que grandes empresas como a Volkswagen, Philips, Rhodia, Olivetti, entre muitas outras, entregaram seus empregados aos cuidados desse tipo de entidade.

Sabendo que a excelente revista MANCHETE visa sempre informar seus leitores corretamente
, lamento informar-lhes que o conteúdo do re­ferido artigo não corresponde à realidade e espero que V, S.as, a bem da verdade, façam a devida correção em uma de suas próximas edições.

Para uma das empresas citadas no referido artigo, trabalhei como Gerente do Departamento de Pessoal, pelo per
íodo de 15 anos e meio. Nela me encontrava em agosto de 1957, quando celebrou um acordo de assistência aos seus empregados, com uma entidade de Medicina de Grupo, cujo superintendente Dr. JULJAN D, CZAPSKI (este sim, foi o pionei­ro da Medicina de Grupo no Brasil). O início das atividades de sua organização data de 1956, na Rua Galvão Bueno, bairro da Liberdade, em São Paulo, o que é facilmente comprovável.

Ora, se o acordo entre a empresa (uma das mencionadas em seu artigo) para a qual prestei meus servi
ços e a entidade que o Dr. Juljan D. Czapski dirige foi celebrado em 1957, e o Dr. Luiz Roberto Silveira Pinto somente se formou em 1960, claro está que não poderia ter sido este último quem introduziu tal sistema em nosso País.

Para esclarecer melhor o que acabo de lhes expor, posso adiantar-lhes que o Dr. Juljan D. Czapski foi o primeiro e
é o atual presidente da ABRAMGE (Associação Brasileira de Medicina de Grupo). Foi vice-presidente do 1º Congresso Internacional de Medicina de Grupo, reali­zado no Canadá em maio último [1970]. E, na qualidade de presidente da ABRAMGE, foi encarregado de organizar 2º Congresso Internacional de Medicina de Grupo a realizar-se no Brasil em 1973, exatamente este que V. S.as mencionam em seu artigo.

N
ão pretendo, em absoluto, desmerecer os trabalhos que o Dr. Luiz Roberto Silveira Pinto, a quem não conheço, possa estar desenvolvendo em prol da Medicina de Grupo no Brasil. Mas, daí, para a sua apresentação como pioneiro, vai uma distância muito grande.

Completando as minhas informa
ções, seguem abaixo alguns trabalhos realizados pelo Dr. Juljan D, Czapski:

* Planos Pré-pagos de Medicina de Grupo – Exper. em São Paulo No IX Congresso Medico Social Panamericano - Lima - 1966

* Estudo Comparativo entre Natimortalidade na Cidade de Santo André a uma População Assistida por Plano Pré-pago de Medicina de Grupo Rev. Bras. Med. Social l : 26 s 66-SP

* Servicio Integrado de Atención Medica: Sus Ventajas en Medicina Ocupacional. Medicina ADMIN; 2 : 101 : 68, Buenos Aires

* Requisitos para a Assistência Médica a um Grupo Populacional de São Paulo. Montevidéu – 01-04-1964

* Serviço Médico Hospitalar Integrado oferecido a uma Comunidade de Trabalhadores - Resultados Obtidos - 1964 - São Paulo

* Redução do Absenteísmo através do Tratamento dos Acidentes do Trabalho pela própria empresa (em colaboração) - 1964 - São Paulo

* Custo de Assistência Médica Integral a um Grupo Populacional em Re­lação a seu Salário e Produtividade. Santiago do Chile - 1965

* Planos Pre-pagos de Medicina de Grupo - Considerações socio-econômicas e éticas. Porto Alegre - 1965

* Estudo Socio-econômico de um Grupo Populacional Assistido mediante Plano Pré-pago de Medicina de Grupo. A. P. M. - Dep. Med. Trabalho - 1966

* Vorzug der Gruppernmedizin als werksärztlicher Dienst in Entwicklungslandern. Viena - 1966

* The Importance of Group Medicine in Public Health - 1 Intern, Congress on Group Medicine. Winnipeg - 1970
 Quando V.S.as efetuarem, espero, num dos seus próximos números, a cor­reção do artigo em pauta, muito apreciaria se pudesse ler, também, quais os trabalhos já apresentados pelo Dr. Luiz Roberto Silveira Pinto pois serão, para mim, conhecimentos a mais sobre este tipo de medicina. Aliás, acredito que a melhor forma de esclarecer devidamente o assunto seria a publicação, também sob "Brasil em Manchete", da posição exata destes dois facultativos, em relação à Medicina de Grupo. Assim, os leitores de Manchete e que ganhariam, pois, além de corretamente informados, ainda teriam melhores elementos para julgar sobre o valor desta atividade médica.


O que teria motivado essa afirmação de Silveira Pinto em 1970? Conflito velado? Jogo de vaidades? Marketing mentiroso? Sede de imortalidade?
 

A lembrar que o fundador da Samcil conhecia bem Dr. Juljan e sua Policlínica Central. Em 1966, assinaram a carta fundação da Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge), que o Cavaleiro da Saúde presidiu nos primeiros dez anos. 

Confesso que me surpreendi quando, em 2010, um ex-diretor da Policlínica chegou a me dizer, em depoimento, que Silveira Pinto estagiou por alguns meses na Policlínica enquanto estudante de medicina. Se sim, porque teria dito que soube desse sistema em viagem ao exterior?

História apenas sugerida nas entrelinhas do livro O Cavaleiro da Saúde relaciona-se à perda da conta da VW, que se tornara a maior cliente da Policlínica. Quem assumiu foi justamente a Samcil. O documento mais próximo da verdade, que menciono no livro, é uma reportagem da revista da Abramge de 1991, onde Dr. Juljan disse: "uma desleal concorrência predatória ampliou significativamente o já preocupante quadro", seguindo-se um relato da derrocada da Policlínica, que acabou por vender a carteira de clientes justamente para... Samcil. 


Nos depoimentos, em off (o que impediu escrever com todas as letras no livro), relatos de propina dada à pessoa do alto escalão da VW, e até insinuação desta pessoa ao Cavaleiro da Saúde (que, segundo mesmo relato, não aceitou) de que, se pagasse mais, permaneceria com o contrato. O resto - como se deu o fim da Policlínica após a não renovação - está no livro.  

Sinal dos tempos? Dr. Sergio Marques da Cruz contou em seu depoimento para o livro sobre a existência dos chamados "paqueiros", pessoas contratadas por algumas empresas de medicina de grupo no final dos anos 1960 para "roubar" contratos de suas concorrentes. Um paradoxo, dado que eram ainda poucos serviços de medicina de grupo no mercado brasileiro, e um enorme potencial de clientes (indústria, comércio, serviços que não conheciam a modalidade) a conquistar.

Não tenho informações de que a carta aqui reproduzida tenha sido publicada na Manchete, ou de que a revista - que deixou de circular em 2000 - tenha corrigido as informações errôneas por meio de nova reportagem sobre o tema.

Pouco depois desse evento, surgiram trabalhos de protagonistas do setor, como o livro Medicina de Grupo, do médico e fundador do Hospital São Luiz, Renato Fairbanks Barbosa (
Mestre Jou, 1973) - também fundador da Abramge -, e a dissertação de mestrado Medicina de Grupo: Planos de Pré-pagamento de Assistência Médica e Saúde Pública, do próprio Dr. Juljan, (Faculdade de Saúde Pública da USP, 1972).


Quanto à Samcil, uma das mais recentes notícias, de 13/setembro de 2014 no jornal Valor Econômico, dão conta de que a empresa, em liquidação judicial desde 2011, teve seu Hospital Panamericano desapropriado pelo governo estadual por R$ 37 milhões, valor este questionado pelo filho e herdeiro Luis Roberto Horst Silveira Pinto, empresário do setor imobiliário.

Foi neste hospital, que Horst encontrou o pai, Luis Roberto Silveira Pinto, morto, por suicídio, em 4 de abril de 2011. Segundo páginas de economia dos jornais da época, a empresa, gigante do setor em crise, estava sob intervenção da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e tentava vender três de seus sete hospitais para sanar dívidas de R$ 70 milhões.

O mais curioso é que ainda hoje encontramos na internet notícias em que Silveira Pinto diz que, em vias de se formar médico no ano de 1960, teria tido a ideia - segundo ele inédita no Brasil -, de criar sua empresa que teve como primeira cliente o grupo de comunicação que reunia emissoras de TV e rádio Record. Mais um motivo  para publicizar esta carta à TV Manchete, escrita há mais de quatro décadas (Silvia Czapski)

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Ah doutor, mosquito desse tamanho...
por aqui não tem!!!

(imagem de dvulgação)
Eles são primos, parecidíssimos. Alados e pequeninos, têm as mesmas qualidades de viverem em áreas tropicais, de se reproduzirem em meio aquático, não voarem tão longe assim e transmitirem doença ao “bicho homem”... Só que um prefere as matas, enquanto outro é urbano, mesmo que já tenha sido visto em zona rural.

Estamos falando do mosquito Anofelino - que transmite malária e é mais comum na Amazônia - e do agora famosíssimo Aedes, pelo terror que vem causando como transmissor da dengue, da chietkungunya, zika e também febre amarela. Doenças que podem matar, apesar do baixo índice de mortalidade.

Seja Anofeles ou Aedes, tudo começa com a presença de 1- alguém infectado e 2- do mosquito. Este receberá o vetor da doença ao morder a pessoa contaminada... e o levará para gente sã. Inicia-se um ciclo que pode se tornar epidemia.

Se não houvesse o mosquito...

OK, óbvio para qualquer profissional de saúde, e quaisquer formuladores que planejam  combater das doenças transmissíveis. A polêmica se instala na sistemática a adotar, que tem a prevenção como fator principal.

Doutor Juljan sempre lembrava (com saudade) dos antigos “exércitos de mata-mosquitos” espalhados pelo país, com a missão da conscientização ininterrupta da população, que assim chamava as equipes de campo da Superintendência de Campanhas de Saúde Pública  (Sucam).

Foram extintas no governo Collor, junto com a própria Sucam. Sem o combate permanente dos focos de mosquitos, o país passou a conviver com o crescente retorno da dengue a cada verão... até chegar à atmas nunca com atual crise de 2015.


O Cavaleiro da Saúde
traz o episódio da participação de Dr. Juljan no 22º Encontro de Medicina na Fronteira Brasil–Peru–Bolívia, em 1993, e seu entusiasmo com palestra do antropólogo e médico Ari Teixeira Ott, então professor assistente (hoje Pró-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa) da Universidade Federal de Rondônia (Unir). Tal encanto com a descrição das dificuldades relacionadas à conscientização da população, que levou a publicar a apresentação no jornal Urtiga, da Associação Ituana de Proteção Ambiental (Aipa), que eu editava.

Fala-se do Anofeles, vetor da malária, num contexto de ocupação da Rondônia. Números dão ideia da
situação de então: em 1994 foram 133,8 mil casos de malária só naquele Estado (551,1 mil nos nove estados amazônicos), com 42 dos 414 óbitos na região, segundo dados oficiais.

Passaram-se 22 anos. Dr. Juljan certamente tiraria cópias do texto hoje, para mostrar a formuladores de opinião. Pois, mesmo que longo, ele permanece interessante como referência para pensar o atual drama do Aedes e da dengue, e a busca de soluções. Confira:
 


ASPECTOS ÉTNICOS NA SAÚDE DE RONDÔNIA
Ari Miguel Teixeira Ott

I. INTRODUÇÃO


O sistema de cuidados médicos nas sociedades capitalistas ocidentais é dominado pelo paradigma biológico. A produção e reprodução do conhecimento médico, bem como a formação de pessoal, ocorre e é validado pelo ponto de vista das ciências biológicas. A expansão das descobertas de novas tecnologias, a partir do aumento de produção da energia desencadeada com a revolução industrial em meados do século passado [obs.: século 19], criou no ocidente a confortável ilusão de que todos os problemas humanos podiam ser resolvidos pelo aumento do patrimônio tecnológico...


A ciência surgiu como a nova deusa a quem se deve pagar todos os tributos. As grandes descobertas e conquistas até os anos setenta solidificam a crença do crescimento constante de um mundo cientificado, de onde a fome e a apatia estariam banidas, e de uma sociedade medicalizada, de onde a doença e a morte, estes entes ameaçadores, estariam expurgadas.


A partir dos anos setenta os constantes fracassos tecnológicos em resolver os problemas estruturais da sociedade, a crise político-ideológica, o aparecimento inexplicável de novas doenças e o recrudescimento de antigas epidemias, o aumento da fome a níveis planetários, as guerras étnicas fraticidas e a perpetuação das desigualdades sociais entre nações e dentro de nações levaram a sociedade ocidental a voltar-se para antigas e esquecidas formas de conhecimento.


Ressurge, assim, a crença em práticas alternativas de autoconhecimento, a valorização do aspecto e do ritual do ser humano, as terapias alternativas e contemplativas e a compreensão mística do mundo.


À falência das tecnologias como panaceia para todos os males, seguiu-se a compreensão de que o preço a pagar pelo progresso é destruição das condições de vida no planeta. O movimento pela preservação do meio ambiente, nascido nos anos oitenta como bandeira de luta de grupos isolados e exóticos, amplia-se e consolida-se pouco a pouco, superando as discussões e preocupações de caráter ideológico que dominaram as décadas precedentes.


É com este cenário como pano de fundo que se pode pensar os aspectos étnicos de Rondônia.


II. DEFININDO GRUPO ÉTNICO


Uma definição de grupo étnico deve incluir dois aspectos importantes:
* é um grupo cujos membros possuem uma identidade distintiva atribuída, e
* sua distintividade como grupo tem quase sempre por base uma cultura, origem e história comuns.


É importante alertar, entretanto, que a conceituação de grupo étnico é um assunto que está longe de ter sido esgotado. Os autores divergem muito uns dos outros, dependendo da teoria utilizada ou do caso específico que está sendo abordado.


Se utilizarmos a definição acima, pode-se levantar uma questão fascinante e que parece em aberto: existem grupos étnicos em Rondônia? E, em caso positivo, como esta etnicidade influenciaria as crenças e práticas médicas e, por consequência, a morbimortalidade do grupo?


Rondônia, como todos sabem é um Estado com características diferenciadas em relação a outros estados brasileiros. A sua população é predominantemente constituída por migrantes de todas as partes do Brasil. Além disso, o grosso da migração é relativamente recente, datando da década de setenta e, mais ainda, da década de oitenta.


* Nos municípios da BR 364, portanto, não se encontrarão agrupamentos humanos que possam reivindicar para si mesmos uma base cultural e histórica comum. Descartaríamos a designação de grupos étnicos para os agrupamentos paranaenses, capixabas, catarinenses, mineiros e muitos outros que se estabeleceram no município de Cacoal, Vilhena, Ji-Parana, Rolim de Moura ou outros.


* Nos municípios de Porto Velho e Guarajá-Mirim, ambos de colonização mais antiga, pode-se pensar em uma situação diferenciada. Nestes dois locais é possível vislumbrar pelo menos a tentativa dos migrantes originais e seus descendentes constituírem-se em grupos étnicos. Nestes casos é possível distinguir nos autodenominados "filhos da terra" uma identidade distintiva atribuída. O fato de que os "não filhos da terra" referem-se aos primeiros como sendo "minhocas", reforça a nossa convicção, dado que nas relações entre grupos étnicos é necessário que o outro identifique o nós, de modo geral, como ocorre nesse caso, por uma perspectiva depreciativa. A confirmação ou negação desta hipótese exigiria obviamente estudos mais aprofundados.


O que não se pode descartar, embora os estudos existentes acerca do tema sejam insuficientes, é marca da influência que os traços ou elementos culturais dos diferentes grupos exercem sobre o perfil de morbimortalidade da população.


III. ETNIA E DOENÇA: O CASO DA MALÁRIA


Muito mais do que aspectos operacionais e/ou administrativos, cujos problemas foram potencializados a partir da extinção da SUCAM e da FSESP, reunidos e um único órgão no governo Collor , e que estariam dificultando o controle da malária no Estado de Rondônia, devem ser considerados os fatores de ordem ecológica, econômica e sócio-cultural. [obs.: em 1991 – dois anos do presente artigo – Collor assinou o Decreto Federal nº 100, criando a Funasa - Fundação Nacional da Saúde, que “incorporou” as antigas Sucam - Superintendência de Campanhas de Saúde Pública - e Fsesp - Fundação Serviços de Saúde Pública]


Se o ecossistema amazônico, por si só, já propicia condições ideais para o desenvolvimento dos vetores da malária, a presença do homem tem como efeito a otimização destas condições.


O estabelecimento do migrante na área rural ocorria através da abertura de uma pequena clareira na mata, com a construção de um pequeno abrigo de palha ou plástico, sem paredes e apenas com o telhado.


À medida que a família estivesse mais capitalizada, o tapiri inicial era substituído por uma construção de madeira o "pau a pique". Este tipo de habitação permitia o livre trânsito dos anofelinos, com consequente infecção intradomiciliar.


A proximidade da casa com a mata e a presença humana afugentava os mamíferos silvestres da área, subtraindo ao vetor sua fonte de alimentação, que se via obrigado a fazer seu repasto sanguíneo no próprio homem.

Adicione-se, ainda, a este quadro, o represamento parcial de igarapés, provocado pela derrubada de árvores de grande porte com sombreamento da coleção aquática e oferta de matéria orgânica, condições extremamente favoráveis à proliferação larvar.


Outras práticas, muito mais prosaicas, devem ser consideradas. Algumas delas, inócuas do ponto de vista da saúde pública quando realizadas no local de origem do migrante, podem assumir um caráter inteiramente diferenciado no contexto amazônico.


O consumo de chimarrão, por exemplo:

* com a família reunida na varanda da casa no fim do dia, tem uma função sociocultural relevante, pois fortalece os laços familiares, propicia a discussão dos temas domésticos e permite avaliar e planejar as atividades grupais.

* Esta mesma prática, cumprindo as mesmas funções, quando se realiza em Rondônia pode se constituir em um momento privilegiado para a infecção da malária, se os anofelinos também estiverem presentes à reunião.


Não se veja nestes exemplos nenhuma tentativa de considerar o migrante como vítima ou vilão, mas apenas a tentativa de demonstrar que o homem ao migrar não leva consigo apenas os bens materiais que pode carregar. Ele leva fundamentalmente suas crenças, valores e práticas.


Ainda que migre para uma região com um contexto ecológico completamente distinto do seu local de origem, ao menos no começo, ele mantém, ou tenta manter, o conjunto de crenças, valores e práticas que recebeu durante o processo de aculturação e/ou socialização.


E nem poderia ser de outra forma, porque é a cultura que determina, em última instância, o seu "weltanschauung", ou visão de mundo.


IV. O PARADIGMA BIOLÓGICO E A CULTURA


Do conjunto de crenças e práticas mantidas pelo grupo devem ser destacadas aquelas relativas aos cuidados de saúde.


As crenças e práticas médicas das pessoas visam identificar, remover, interromper, aliviar ou prevenir os episódios de mal-estar, crise ou distúrbio. Isto significa que boa parte dos esforços das pessoas de qualquer sociedade estão centrados na profilaxia, diagnóstico e terapia das moléstias que as afetam.


É claro que as crenças e práticas irão variar de sociedade para sociedade e dentro da mesma sociedade entre diferentes grupos. Estas diferenças são determinadas por diferentes processos de socialização primária.


Mais óbvio ainda, mas infelizmente nem sempre percebido, é que as crenças e práticas médicas sustentadas pelas pessoas, não necessariamente estão baseadas no paradigma biológico da medicina ocidental.


Ao contrário, ainda que possam adotar conceitos e práticas assimiladas da medicina ocidental, eles serão reinterpretados em um contexto lógico próprio. Um antigo exemplo, hoje já incorporado como piada, ajuda a esclarecer este ponto.
Gran mosquito para colorear, em 2015. Tudo igual
(fonte: enricacallas - imagui.com)
Há alguns anos a SUCAM considerou que deveria ensinar para as pessoas o ciclo biológico transmissão da malária. Para tanto providenciou a impressão de cartazes com a figura do anofelino em posição de pouso, de forma que as pessoas pela visualização do cartaz aprendessem a identificar o vetor.

Para facilitar a visualização o anofelino foi ampliado centenas de vezes na reprodução. Passado algum tempo da divulgação do cartaz, a SUCAM viu-se obrigada a suspender a campanha porque seus idealizadores perceberam que as pessoas estavam interpretando os cartazes com uma lógica própria, embora impecável: se a malária era transmitida por um mosquito daquele tamanho, não deveria haver malária na região, visto que ninguém conhecia um mosquito daquele tamanho; por outro lado, em havendo malária na região, somente poderia ocorrer transmissão de outra maneira que não por mosquito.


* Em inquérito realizado por Hayes & Ferraroni ao longo de um trecho da BR 174, que liga Manaus a Boa Vista, foi demonstrado que apenas 45% das pessoas entrevistadas revelaram conhecer que a transmissão da malária se dá através da picada do mosquito.

* Estudo semelhante realizado por Ott & Cols. nos municípios de Ariquemes, Ouro Preto e Ji-Paraná indicou que apenas 22% das pessoas entrevistadas associavam a doença malária com a picada do anofelino.


Ambos os estudos, entretanto, indicaram que as pessoas não sabem determinar os sintomas da malária em percentagens muito baixas (9% e 7,5%, respectivamente). Em outras palavras, as pessoas estariam diagnosticando a malária corretamente, na esmagadora maioria, embora o conhecimento sobre os mecanismos de transmissão não estivesse de acordo com os preceitos biológicos.


É preciso ressaltar que este aparente desconhecimento não significa, nem revela ignorância e confusão, como querem alguns autores, revestidos de uma capa etnocêntrica que os impede de considerar como válidas explicações diferentes das suas.


O sistemático desconhecimento dos aspectos étnicos atualizados pelas populações, especialmente por parte dos planejadores de saúde, tem levado à perpetuação do que poderíamos chamar de falácia das cabeças ocas. Isto é, os planejadores consideram como universalmente válidos e inquestionavelmente corretos os procedimentos da medicina ocidental; desprezando, considerando como curiosidades folclóricas, ou como atestado do nosso subdesenvolvimento, as crenças e práticas médicas mantidas pelas pessoas.


V. CONCLUSÃO


Infelizmente, são raros os trabalhos que se dedicaram a estudar as crenças e práticas médicas de grupos étnicos relativas às doenças e seus tratamentos.


* Nos poucos trabalhos produzidos por médicos ou por pesquisadores com formação eminentemente biológica, fica mais ou menos claro que o objeto da pesquisa é determinar o conhecimento que a população tem a respeito dos fundamentos biológicos das doenças. Isto é, por não compreenderem mais profundamente o mecanismos da dinâmica sócio-cultural apegam-se ao paradigma biológico.


* Por outro lado, aos cientistas sociais que se debruçam sobre o tema, falta um conhecimento teórico-metodológico mais acurado em relação ao processo saúde/doença.


Um último aspecto merece nossa atenção, para concluir esta exposição. Trata-se de um questionamento inevitável nos tempos atuais. O fracasso de sucessivas políticas governamentais levou ao sucateamento do serviço público em todos os níveis e à falência do estado brasileiro.


* A penúria do setor de atendimentos médico saiu dos matutinos.


* O abandono da população à própria sorte é constatada em qualquer lugar e a qualquer momento.


* Os administradores de saúde, responsáveis pela gerência dos recursos públicos do setor, parecem estar mais interessados no rápido enriquecimento, do que no gerenciamento eficaz dos dinheiros.


Em nível de Rondônia, a Justiça Federal viu-se obrigada a nomear um interventor para vigiar a aplicação dos recursos na Secretaria de Saúde, em uma tentativa terminal de estancar a sangria dos recursos. Um relatório apresentado pelo Conselho Estadual de Saúde constatou que as auditorias realizadas pelo Inamps/MS
"demonstram cabal e irrefutavelmente a malversação de recursos do SUS pelos gestores relativos a: obras contratadas e não realizadas, no todo ou em parte; licitações fraudulentas e dirigidas; diárias e passagens pagas em duplicidade; notas fiscais e empenhos adulterados e/ou sem confiabilidade; aplicação dos ganhos de capital na conta do SUS; repasses ilegais e indevidos ao Iperon [Instituto de Previdência dos Servidores Públicos do Estado de Rondônia]; sumiço e/ou desaparecimento de mercadorias, medicamentos, equipamentos e veículos automotores, comprados com o dinheiro do contribuinte; favorecimento de alguns fornecedores ou prestadores de serviço; etc."

Quando a situação chega a tal ponto, toda a discussão empreendida acerca dos aspectos étnicos na saúde de Rondônia, assume um caráter acadêmico. Ainda estamos necessitando é de discutir os aspectos étnicos na saúde de Rondônia. (
Porto Velho, 18 de julho de 1993).

Ao pedir autorização para republicar este artigo (originalmente na edição 75 do Urtiga  (outubro/1993)  - o professor Ari Ott mencionou mudanças em Rondônia. Por exemplo, a malária deixou de ser problema por lá, não por uma boa causa. Poluição dos rios - problema mais recente - criou ambiente onde a larva não se desenvolve... (Silvia Czapski)

Quer saber mais?

Neste blog
* Sobre a FSESP (ou Fundação SESP)


Por aí...
* Mosquito "gigante" da dengue no youtube

* Saudade da SUCAM (e o fim exército mata-mosquito)

domingo, 11 de janeiro de 2015

Cinco anos sem Dr. Juljan
e um lindo artigo-homenagem


(Sentido do relógio): 1- (alto, esq) Última foto da família na fazenda Obra:
Juljan agradando o cão, com seus pais e o irmão Jan (1939). 2- Juljan em
congresso médico no Peru (1960s); 3- Juljan diretor da Fenaess, a Federação
dos Hospitais do Estado de São Paulo (1990s), 4- Recebendo homenagem
da Hospitalar, das mãos de Francisco e Waleska Santos;
5- com Hiroshi Nagajima, diretor geral da Organização Mundial da Saúde;
6- Em Itu, diante de muda de ipê que plantou;

Seu sonho era completar 90 anos, que comemoraria em 14 julho de 2015, coincidentemente a data nacional francesa. Se estivesse conosco hoje, estaria ligado na mobilização lá em Paris nesse domingo e contextualizando essa improvável união de chefes de Estado em torno da paz. Mas quis o destino que Dr. Juljan Czapski nos deixasse mais cedo, em 12 de janeiro de 2010, há exatos 5 anos.
 

Nada melhor para lembrá-lo que a reprodução neste blog do lindo artigo-homenagem na revista Campo & Cidade, assinado pelo historiador e professor Jonas Soares de Souza. Mestre em História Social, doutor em História Econômica pela USP e especialista em patrimônio cultural, Jonas foi diretor do Museu Republicano Convenção de Itu (braço do Museu Paulista, ou  do Ipiranga, como conhecemos), secretário  de Cultura de Porto Feliz (SP), escreveu mais de uma dezena de livros e conviveu com o Cavaleiro da Saúde como membro do Conselho Diretor da Associação Ituana de Proteção Ambiental (Aipa), presidida por Juljan. Uma convivência de mútua admiração.

Campo & Cidade conquistou um público fiel e colecionador por sua característica única: a cada edição aprofunda-se num tema, com destaque para a raiz histórica e aspectos regionais. A linguagem é leve, jornalística, com muitas ilustrações. No final da revista, uma seção 
relaciona as fontes consultadas, para quem queira se aprofundar ainda mais. 

Sustentabilidade é o assunto da edição em que Dr. Juljan ganhou destaque. Mas o artigo vai além, traçando um perfil biográfico que inclui um episódio inédito (que
 abre a matéria) e menções ao livro Cavaleiro da Saúde, inspirador deste blog. Vale a leitura (Silvia Czapski). 

"Juljan Dieter Czapski 

(Por Jonas Soares de Souza, Campo & Cidade)
 Médico pioneiro em medicina de grupo incursionou nos campos da arte e do meio ambiente
Jonas Soares de Souza assina o texto-homenagem
 “Programas de desenvolvimento sustentável só serão realidade se tiverem a participação de todos os grupos de interesse e uma maior responsabilização no que diz respeito a questões ambientais e sociais”, comentou Juljan Czapski com o historiador Alberto Vieira, presidente do CEHA (Centro de Estudos da Madeira).
Vieira estava no Brasil a convite de instituições universitárias para conferências nos eventos comemorativos aos “500 anos do Descobrimento”, e encontrara-se com Juljan, no Museu Republicano Convenção de Itu/MP, em abril de 2000. Em sua fala Vieira abordara os fenômenos de mobilidade humana, econômica, comercial e ecológica provocados pela cultura da cana-de-açúcar, “planta que escravizou o homem, esgotou o solo, devorou florestas e dessedentou os cursos de água”.
Juljan, revelando-se conhecedor do assunto, leu na sessão de perguntas que se seguiu à conferência um trecho anotado do livro “Geografia da Fome” escrito pelo médico, geógrafo e ativista brasileiro Josué de Castro:
“Já afirmou alguém, com muita razão, que o cultivo da cana-de-açúcar se processa em regime de autofagia: a cana devorando tudo em torno de si, engolindo terras e mais terras, dissolvendo o húmus do solo, aniquilando as pequenas culturas indefesas e o próprio capital humano, do qual a sua cultura tira toda a vida”.
Na conversa que correu solta depois do cafezinho, Juljan convidou Alberto Vieira para ver terras de Itu que há dois séculos foram cobertas de cana-de-açúcar e depois conhecer sua “menina dos olhos” – a Fazenda São Miguel e os projetos da Aipa (Associação Ituana de Proteção Ambiental), no Bairro Varejão-Taquaral.

Educação ambiental

Premiação Concurso da Primavera da Aipa (Foto Alan Dubner)
Muito antes de o assunto sustentabilidade tornar-se uma prioridade planetária Juljan Czapski já havia despertado para questões de preservação do meio-ambiente e desenvolvimento sustentável. Em fevereiro de 1986 fundou a Associação Ituana de Proteção Ambiental, em Itu/SP, voltada especialmente à educação ambiental e recomposição da flora com árvores nativas. A Aipa também desenvolveria campanhas de hortas escolares sem agrotóxicos e dedicaria atenção à ausência de cuidados com a saúde ambiental, estudos e respectivos relatórios de impacto ambiental na implantação dos conjuntos habitacionais do Bairro Cidade Nova. Os projetos contaram com apoio de empresas locais, Unibanco Ecologia, União Europeia e Lateinamerika Zentrum.
A trajetória do médico, humanista e ativista ambiental é contada no livro  “O Cavaleiro da Saúde”, de Silvia Czapski e André Medici, publicado em 2011 pela Novo Século Editora. O livro, a ser degustado como romance, traz a história surpreendente de Juljan Czapski, idealizador da primeira empresa brasileira de medicina de grupo, pioneiro na criação dos planos de saúde no País e que também incursionou nos campos da arte e do meio ambiente.

Fugindo do holocausto

A vida no campo marcou indelevelmente a infância de Juljan Dieter Czapski, que nasceu em 1925 na Fazenda Obra, província de Poznan, Polônia. Seus pais, Fryderick Czapski e Ilza Dyrenfurth, criavam gado leiteiro holandês e cavalos de raça e plantavam centeio, trigo, batata e beterraba para a produção de álcool. Em 1939, Fryderick, membro da Câmara de Comércio Polono-Latino-Americana e técnico em Agropecuária, foi convocado pelo Ministério das Relações Exteriores para vistoriar uma colônia de imigrantes poloneses estabelecida no Paraná. Em setembro desse mesmo ano o exército de Adolf Hitler invadiu a Polônia. Fryderick não encontraria mais Juljan em Obra.
Fugindo da perseguição alemã na Segunda Guerra Mundial a família Czapski aportou no Brasil em 1941 e Julian foi morar inicialmente em uma fazenda de café em Rolândia, Paraná. Depois de
Juljan e Alice, namorados (Foto Eg Simoni/2015)
algum tempo juntou-se aos Czapski, instalados na capital paulista. Em 1949, Juljan ingressou na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e, naquele mesmo ano, casou-se com Alice Brill, artista plástica e fotógrafa de renome internacional.
Estudante tardio, mas dedicado e brilhante, formou-se médico em 1954. Depois vieram o doutorado, a especialização em Administração Hospitalar e a pós-graduação em Saúde Pública. Trabalhou como residente no Hospital das Clínicas sob a supervisão do professor Ulhoa Cintra e, como o pagamento era pouco, complementava seu salário como médico na Ultragaz – pioneira na introdução do gás de cozinha no Brasil e empresa que se perfilava à nova estrutura moderna de benefícios de saúde.

A partir de então, começou a formular e desenvolver o conceito dos Planos de
Grupo de funcionários da Policlínica, Juljan é o mais alto, última fila
Saúde e Medicina de Grupo. Implantou a ideia em sua própria empresa, a Policlínica Central, e seu primeiro cliente foi a Volkswagen do Brasil. O sucesso da iniciativa fomentou o surgimento das empresas de saúde privada que se conhece hoje e também a própria Abramge (Associação Brasileira de Medicina de Grupo).
Juljan Czapski, nas palavras do médico, professor e cientista Adib Jatene, foi “uma das lideranças mais atuantes na formulação e na execução de medidas que resultaram em nosso sistema de saúde atual”. Juljan Czapski morreu em São Paulo em 12 de janeiro de 2010.

Proteção do Cerrado

A Fazenda São Miguel em Itu foi comprada em 1960. Como forma de aproximar-se dos proprietários rurais, no ano seguinte, Juljan filiou-se ao sindicato rural, à associação e à cooperativa agrícola do município. Nos anos de 1980 a fazenda tornou-e sede da Aipa, e ali eram promovidas ações junto à comunidade para tratar de questões de educação ambiental e desenvolvimento sustentável. Juljan investia recursos próprios para pôr em prática as ideias nascidas na Aipa e gerar soluções que só 20 anos depois estariam no seio das preocupações coletivas.
Viveiro da Aipa: com o embaixador da Polónia e esposa
Aconselhado por Ladislau Deutsch, diretor do Simba Safari na capital e amigo da família Czapski, foi criado um nicho de mata nativa para manter exemplares das espécies do cerrado ituano, em risco de extinção. Juljan também fez gestões para envolver a vizinhança num projeto de longo prazo de preservação da fauna e flora e idealizou a criação de uma área de proteção ambiental municipal inédita. Com apoio do engenheiro florestal Rinaldo Orlandi, desenhou uma área com três níveis de proteção. No centro, um raro remanescente de cerrado, então utilizado para treino de tiro pelo Exército. No entorno, um cinturão protetor com menos restrições de uso. Da iniciativa surgiu a Área de Proteção Ambiental Bairros Varejão-Taquaral, criada por decreto do então prefeito Lázaro Piunti (MDB) e depois consolidada por Lei Municipal.

Soluções viáveis

Juljan colaborou com a ativista Beatriz Pionti, fundadora de um pioneiro Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente (Condema), presidindo a câmara técnica do colegiado. Para o diagnóstico da fauna e flora na região, em 1987, envolveu os jovens biólogos da Sociedade de Preservação da Vida Selvagem (SPVS), criada em Curitiba/PR.
Juljan divulgou a experiência ituana em eventos nacionais e internacionais e foi um dos idealizadores do Ecointerior, primeiro encontro de ambientalistas do interior paulista, realizado em Piracicaba/SP, em 15 de setembro de 1989, com patrocínio do Serviço Social do Comércio (Sesc) e suporte logístico da Prefeitura Municipal de Piracicaba/SP e da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep). Na abertura do evento ele sintetizou seus princípios:
Ao lado de um dos ipês que plantou em Itu
“sou de firme convicção que defesa do meio ambiente não pode ter cor política. Todos os partidos devem lutar por este ideal. Pouco adianta sermos polícia, eternos denunciantes, eternos contra. Temos de ser sempre a favor de um projeto, apresentar soluções viáveis de demonstrar a viabilidade de nossas propostas”.
Por decisão de Juljan, a Aipa se alistou no Fórum das ONGS e Movimentos Sociais da Eco92, realizada no Rio de Janeiro, tornando-a conhecida internacionalmente. Em 1997 a Aipa recebeu do Ministério da Educação a indicação como uma das cinco melhores do País no campo e o programa das hortas escolares sem agrotóxicos e ganhou destaque no vídeo de abertura na teleconferência nacional de educação ambiental, retransmitido pela TV Escola para um público de mais de um milhão de espectadores." (Jonas Soares de Souza - Revista Campo & Cidade ed. 92)

Para saber mais

* Site da Revista Campo & Cidade e o artigo sobre Dr. Juljan no site
Neste blog
Dois Anos sem Dr. Juljan e uma interessantíssima história
Três anos
E mais
* Video-homenagem a Dr. Juljan (7 minutos)
* Sobre o livro