Quantas histórias por trás deste papel colado no passaporte de Ilza Czapski, mãe do Cavaleiro da Saúde, em outubro de 1941:
"A vista do oficio 4075, e atendendo à revalidação concedida por autorização do Ministério da Justiça, legalizo nesta data o desembarque do portador" DNI- 7428/41
29/10/1941
Página 1 do mesmo bilhete:
"Tendo sido pagos os respetivos (sic) emolumentos consulares, o visto, em caráter permanente concedido no passaporte pelo Consulado do Brasil em Marselha, sob o n. 281, em 12 de Abril de 1940, fica devidamente revalidado.
Essa revalidação é outorgada de acordo com o expresso no aviso JS-989, de 10 de Outubro de 1941, do Ministério da Justiça e Negócios Interiores" (RJ, 17/outubro/1941)
Foto incomum para um passaporte - a mãe de Juljan com o filho caçula -
está no documento usado no percurso para o Brasil.
Filhos menores de idade eram incluidos nos passaportes maternos.
13 de Janeiro de 1941 -
no mesmo passaporte, a autorização para embarcar no lendário navio Alsina, e registro do embarque, em 15/1 no porto de Marselha, França.
A expectativa era chegar ao Brasil em poucas semanas. Mas....
... centenas de passageiros, inclusive Juljan, sua mãe e irmãos, ficaram 5 meses retidos no Alsina, em costas africanas. Foram liberados em junho/1941, como mostram esses carimbos. De trem, foram à Espanha e, de lá, no
'Cabo de Buena Esperança' em direção ao Brasil.
Sei que qualquer história de vida é emocionante, se bem contada. Mas quem viveu períodos como esse, cheio de momentos dramáticos, duros e às vezes engraçados, torna mais fácil fazer da biografia um romance bom de ler.
Como filha, cresci vendo como o "Cavaleiro da Saúde" era capaz de encantar seus ouvintes quando contava sobre suas vivências de guerra. Mas não precisei me ater apenas aos relatos gravados para escrever o livro. Tive a sorte de "passear" por documentos como esse passaporte histórico, onde os carimbos e anotações fornecem detalhes fantásticos para quem se interessa pelo tema.
E mais: tive chance de falar com gente incrível, como uma companheira de Alsina, a artista plástica Lise Forell, ou o pesquisador Fabio Koifman, autor do ótimo livro "Embaixador das Trevas" sobre a vida do diplomata Souza Dantas, que salvou milhares de vidas ao conceder vistos para refugiados judeus. Ele pediu, e eu mandei as páginas que ilustram esse post.
- Esse passaporte valeria uma tese de doutorado - foi a reação de Koifmann.
O livro conta muito mais, com detalhes inéditos que Juljan permitiu descobrir. Mas eu não poderia deixar de contar tudo isso, no aniversário da data em que ele - um adolescente, na época - ganhou a legalização da permanência no Brasil. (Silvia Czapski)